sábado, 16 de julho de 2011

OBRIGADO ANGOLA!

Família Angolana

Minha curiosidade começou na infância, quantas vezes sentada na areia da praia de Pajuçara, pensativa, viajava para o outro Continente, e numa geração de poucas ferramentas  visuais, mas de muita relação com a mãe África. Sou bisneta de um Senhor de Engenho que conseguiu o grande feito de ter todos os seus escravos como empregados remunerados depois da abolição da escravatura. A babá de vovó que depois veio ser de mamãe, menina por quem caiu de amores e acompanhou quando se casou, nos viu nascer e  morou conosco, sendo responsável pela governança da casa, foi filha de ventre livre, se chamava Rosa e pouco sabia da escravidão, nasceu na casa grande e tinha uma saúde ferro, morrendo aos noventa e sete anos e deixando um luto profundo em todos nós. Tia Loló como a chamávamos, era quem ditava as ordens, fazia as vezes de mamãe, que dizia ser uma mulher de gabinete e nutria um amor de mãe por papai também e cuidava dele com uma dedicação invejavél, da mesma forma que o repreendia com a firmeza de uma mãe zelosa.
Ela nada sabia de sua Pátria, mas em suas historias de trancoso as personagens tinham sempre um traço africano e de um povo que chegou no porão do navio de um lugar chamado Angola, que não sabia ser sua Pátria.
Assim como ela, também não gosto de descrever a imagem horrível que nós mostra uma realidade de desigualdade racial, quase uma barbare cometida com irmãos de Pátria. Sou nascida a poucos km da Serra da Barriga em União dos Palmares/AL.
Já nesta época s trajes das Africanas me fascinava,quase um desfile de moda, em ocasião de uma manifestação muito importante para alertar sobre o racismo. O DIA INTERNACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA, comemorado dia 20 de novembro, tornando-se inclusive feriado Nacional.
Ainda adolescente eu já havia  lido toda obra de Jorge Amado, e quando casei com um Baiano, filho de fazendeiro de cacau, conheci a realidade atravez do cultivo do cacau o que tinha conhecimento atraves da literatura, o que um dia foi a realidade de uma escravidão nua e crua.
Meus dois filhos nasceram em Ilhéus/BA, morei em Salvador/BA por alguns anos e em fases bem distintas. Sempre fui encantada com vestimenta compostas por tecidos coloridos de estampas diversas, envoltos em corpos que mais parecem terem sido esculpidos, e adornos de cabeça lindamente amarrados. Herança das Angolanas como elas fazem questão de frisar.
Gosto também do porte, da altivez, graciosidade, elegância e principalmente da personalidade. São mulheres retadas como se fala na Bahia*. (Referência a personlidade forte e muita auto estima)
Adoro a culinária, a musica, a dança, a alegria e desenvoltura dessas mulheres.E quando se vestem de Baianas, traje todo branco e ricamente bordados em richilieu e rendas com seus tabuleiros para vender  acarajé, abará e cocadas. Gostaria de lembrar que não são todas negras ou mulatas.
Mas o que isso tem a ver com Angola?  - Tudo. - Só que a questão é: - Porque se fala tão pouco em Angola?
Não seria por esse motivo que se tem uma visão equivocada? - Quando Dulce Braga lançou seu livro Sabor de Maboque, ouvi de muitas pessoas: Nossa! Nunca pensei que Angola fosse assim, e ao ouvir, eu é que pensava,
como pensavam que fosse?
Voltemos então a menina Rosário que aos onze, doze anos já sonhava conhecer Angola e que no ano passado, ao ler Sabor de Maboque, tanto se identificou  com a menina Dulce e sua família. E que por ser mais velha, tanto conheceu famílias Angolanas ouvindo relatos de coragem e superação.
Ontem estava no aeroporto e encontrei uma prima e seu marido Angolano, que chegavam de Angola para férias com as famílias: A dela Brasileira e a dele Angolana  que aqui vivem há muitos anos. Eles são loiros e de olhos claros, ele se formou aqui, mas recebeu uma excelente proposta de trabalho e mora lá ha mais de 15 anos.
O Brasil é um País jovem, somos de muitas Pátrias, mas vencemos por braços de Angolanos e em braços de Angolanas, porque dos Africanos que tiveram  como destino nossa região, a maioria era de Angola
Hoje não me resta dúvidas, tenho uma ligação com um País separado pelo mesmo oceano e que  ainda menina tinha meus questionamentos. Mas hoje com a convicção de uma mulher guerreira que quando está no fundo do poço, tem um único pensamento:  Esse é o melhor lugar para estar, não tenho mais para onde descer, a única alternativa é reunir esforços para subir.
Sempre consigo, e meu pensamento é não posso fraquejar, afinal eu não nadei da África até aqui, para morrer na praia, pois carrego nas veias o mesmo sangue de cor púrpura.

4 comentários:

Joop Zand disse...

Lovely and colorful.

greetings, Joop

Darwin Bruno disse...

Que colores tan bellos.Buen texto.Muy interesante.

Mariana Lyra disse...

Concordo! adorei o texto mae, tambem quero ler o livro 'sabor de maboque'! beijos!!

Dulce Braga disse...

OBRIGADA Rosário, pela referência à "minha cria" e à minha querida Angola, a mãe negra do Brasil, cuja importancia para a cultura, etnia, gastronomia, musica, dança, religião e vocabulário, é de extrema importancia para este país tupiniquim e infelizmente muito pouco divulgada e valorizada.
Quanto à saúde de ferro da filha de ventre livre Rosa, essa é uma magnífica característica dos negros brasileiros, heróicos sobreviventes das longas e inóspitas viagens dos navios negreiros, triagem natural dos DNAs mais resistentes.
Beijos