sábado, 14 de maio de 2011

POESIA MATUTA (POR MARCO LYRA)

              
                          VICENÇA                                  

                                         (Zé Brejero)

Quando sortero eu vivia, era o maior aperreio
 devido ser muito feio, as mule não mim queria
sempre pros forro eu ia, com os camaradas meu
eles iam namorar,  tomar cachaça e brigar,
 no fim da festa apanhar, quem ia preso era eu.
Pra mode arranjar namoro, toda vida eu fui mole
dancei samba, puxei fole, e era um cabra vistoso
usava os cabelo louro, a boca cheia de ouro
mas quando falava em namoro,
 as mulé num mim quiria.
Eu dixe foi catimbó, que alguem butô e não sai
vovó casou com vovô, Mamãe casou com Papai
inté meu irmão chicó, muito mais fei do que eu
arranjou casou   eviveu, com cinco mulé inté
 num arranjo uma se quer qui quera se esfregar neu.

Mas um dia o cão se esqueceu e Vicença olho pra eu
nosso olhar se amisturô que nem feijão cum arroz
e nos dois se apaixonemo, num amor tão violento
que marquemo o casamento pra quatro dias depois.
No dia casamento,  quase endoideço por ela
quando entrei na igreja dei de garra da mão dela.
Cheguei no pé do altar,   jurei em nome da crença
o pade dixe umas coisa e fui morar mais Vicença

Numa casinha sinjela, fui logo mim agasaiando
há muito eu vivia sonhando, em dormir com uma donzela
Vicença fez  uma novela,  por dento da camarinha
quebou os caquim que eu tinha, me ameaçou na bala
ela foi dormi na cozinha  e eu fui dormi na sala.
quaje morro de desgosto, porque vicença fez isso
saí cedo prô selviço,  voltei  quase o sol se posto
Vicença  me arrecebeu,
 inté um  freveu pra mode nós doi tomar

Na hora de se deitar, nem se quer olhou pra eu
virou-se pro canto da cama, fingindo qui adormeceu
e quaje deu adoença, quando eu falei em amor
dixe o senhor, pensa que sou o que?
só mim casei com vosmecê, pra mode fazer favor.

Da vida perdi o gosto, de Deus eu perde a crença
no calor da discursão, só nome chamei uns trinta
ligero que nem gato, me alevantei do cochão
 me abufelei mais Vicença, batendo com nega no chão,

 Cum a nega estribuxando dei de mão o facão,
cortei a fita da cinta, e o elástico do calção
Vicença tinha razão, de não querer nada cum eu
 não era cum nojo deu, nem pro mode ser sincera.

 Sabe o que Vicença era?

( ERA MACHO QUE NEM EU )
     

 

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