quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A MÁQUINA DE COSTURA

Reencontro

Foi ontem a noite em ocasião de visita à Katinha minha prima, as memórias afloraram e pedi para fotografar. E fiquei sabendo que foi restaurada por seu pai Geraldo Lyra.
Como não dividir com vocês esse momento de nostalgia, minhas memórias são de vovó Lica, que nos deixava fazer roupa de boneca com retalhos, pegar em tesoura e agulha mesmo quando pequenas.
Ela já tinha uma versão mais nova da máquina de costura, com pedal e uma correia de couro que vivia soltando porque pedalávamos de brincadeira.
Então, se era para brincar que fosse nessa ultrapassada mas que funcionava perfeitamente bem. Mas como era difícil de manusear, segurar a costura com uma mão só!
Lembro que tinha uns oito anos e estavamos de férias, vovô decidiu atender nosso pedido, quase uma súplica para participar da colheta de algodão no dia seguinte. Vovó mandou buscar chapéus de palha com abas grandes e Margarida passou uma fita para prender no queixo e não voar.
Depois desforrou a mesa de costura e começou cortar os bisacos de saco em tamanho pequeno, e fomos costurar, eu sentada em suas pernas apenas segurando o tecido e ela pedalando.
Na manhã seguinte, depois do café da manhã, todos bem paramentados seguimos com vovô para a plantação que ficava por trás do pomar na parte de cima da casa.
Era uma tarefa difícil, o algodoeiro já seco nos espetava, o cabinho que segurava a flor tinha pelos que coçavam as mãos, o algodão colava nas mãos suadas e logo estávamos parecendo uns pelanços de passarinho, com aquela plumagem falha e feia.
Ela nos conduziu para debaixo de uns pés de carrapateira onde havia sombra, abrimos nosso lanche e tomamos água das cabaçinhas que levamos, cada um na sua.
Eu, particularmente já estava chorando e me coçando toda, mas continuamos nossa aventura porque existia uma competição que para nós ainda era segredo e eu como sempre fui muito competitiva, segui em frente.
Voltamos na hora do almoço felizes, com nossos bisacos cheios e o orgulho de dever cumprido.
Para nossa surpresa fomos chamados ao armazém no final da tarde, vovô pediu que cada um colocasse sua produção na balança e nos pagou o mesmo preço dos diaristas. Naquela época já ficamos tão felizes e prestigiados que guardamos nossas paramentas e para os próximos anos.
Hoje entendo a importância de vovó nos ensinar costurar, apesar de nem todas terem se interessado por falta de habilidade, o que é um ponto positivo também.
E vovô nos ensinava com aquela atitude,  aprender e valorizar o trabalho, mostrando as dificuldades que precisamos enfrentar na vida.
Assim sendo, aos onze anos eu já tinha o diploma de corte e costura e fazias minhas próprias roupas.
Detalhe: Até hoje tenho máquina de costura e um baú com muitos aviamentos, mamãe me chama de Senhora de Engenho.

3 comentários:

Bella Dourado disse...

Adorei "senhora do engenho", Será que posso ser a "senhorinha do engenho", kkkk

Aprendi a costurar faz pouco na máquina, sempre costurei, bordei, inventei , rs,rs tudo a mão; fazem dois anos que comprei uma máquina doméstica e faço muita coisa com ela e também dá até para incrementa o orçamento, rs,rs,rs

Adorei seu texto, é gostoso ler as histórias reais de vidas reais.

Bjs amiga

Maria do Rosário disse...

Maria Alice,

Obrigado por sua amizade, saiba que ela é muito bem vinda...

Um abraço amigo e carinhoso.

Maria do Rosário disse...

Ah! Bella, o Senhora de Engenho é porque tenho o hábito de comprar redinhas, babadinhos, fitilhos...
Coisas de antigamente!
Adoro costumizar roupas usadas:))
Mas pelo que vejo você também é Senhora!!

Beijinho