domingo, 5 de dezembro de 2010

O MEU PASTORIL NATALINO

                                               

                                               
Hoje acordei com uma sauudaade de Maceió!
Esta semana os comentários do Blog foram pura nostalgia, minhas memórias, dentre outras, foram as brincadeiras de infância. Ontem a noite fui a uma confraternização em casa de amigos, lá estavam presentes alguns Europeus que logo se aproximaram para dividir conosco o saudosismo das brincadeiras de infância, que só mudam de nome, mas são as mesmas. Só para dar um exemplo: Quando o assunto foi a amerelinha, os Franceses se orgulham de lá ser o berço e demoninação da brincadeira, que já em Portugal é chamada de Macaca, aqui no Brasil é Academia ou Avião,depende da Região.
Há,  por incrível que pareça uma pessoas citou a ( corre, corre, Lucuxia)! - Brincadeira que não coloquei na postagem e fui cobrada por um Alagoano, muito ilustre. Meu amigo e escritor Artur Justo.
Engraçado que ultimamente tenho me sentido mais moderna, Blogueira, mais intima do computador, informatizada, cibernética. Só que sou insatisfeita,  sempre estou querendo mais.
Hoje eu gostaria de puder levar para vocês atravez do computador o som de uma das músicas folclóricas, do pastoril,  mas  infelizmente no Blog não dá é muita coisa. Assim como também não consigo levar o cheiro das receitas. - Mas para memórias, creio que a discrição e a letra em resumo já está de bom tamanho.
Comemorávamos as festas Natalinas primeiro em casa e depois com uma festa de rua que começa em frente da Igreja com uma missa campal, chamada de Missa do Galo e em frente um Parque de diversões com direito a todas aquelas guloseimas e  brincadeiras. Como eu tinha medo de tudo, fugia para o fim da rua
porque eu  gostava mesmo era de assistir as apresentações dos folguedos folclóricos, feitas em palanques.  Os artistas vinham dos sítios, da periferia da cidade ou de Escolas como a do professor e Folclorista Pedro Teixeira por exemplo: Reizado, Chegança, Mazuca, Guerreiro e etc. Tudo muito alegre, colorido e brilhante.
Mas o pastoril  eram  as meninas de nossa cidade  que dançavam.                                       
O Pastoril a meu ver era a mais Natalina de todas, como não consegui uma boa foto, descrevo para vocês:
Primeiro era feita a formação do grupo onde eram escolhidas as pastorinhas que deveriam ter um tipo físico bem semelhante e assim formavam pares, sendo seis de cada lado arrumadas da maior para menor.
O Pastoril é dividido por dois partidos, o azul e o Encarnado(Vermelho), a Diana ,que fica na frente entre as mestras, e tem seu traje dividido na vertical em duas cores, um lado  azul e outro encarnado.
O Menino vestido de pastor com seu cajado fica no fundo ao lado do Anjo Gabriel e da borboleta, que tem que ser bem pequena, com meias, sapatilhas e collant verde, arco na cabeça com antenas e asas transparentes e bordadas em lantejoulas, linda!
A roupas das pastoras é um colete preto de veludo, bordado em pedrarias, com decote abaixo do busto, blusa branca de mangas bem fofas, com bico bordado e fita em entremeio dando belos laços no decote e nas mangas, uma saia bem rodada, igualmente bordada e com muitas saietas engomadas por baixo para dar armação,uma calça fofa de riquifife ou bunda rica, que era chamada assim por causa das várias camadas de bico franzido apregadas na parte traz e elástico com bico e laço de fita nas pernas, como um shorts, na cabeça uma guirlanda de flores disposta sobre a aba do chapéu e fitas caídas, nas mãos um pandeiros pequeno todo enfeitado de fitas, com o qual elas fazem a marcação das musicas. - Eu faço questão de falar da riqueza de detalhes e perfeição das fantasias, porque era tudo feito artesanalmente, tudo!
Agora, imaginem um palco, todo decorado, com duas filas de meninas lindas, fantasiadas impecavelmente, cantando baixinho e apenas se movimentando levemente em pequenos passos para frente e para traz,  as saias balançando junto com as fitas  e por causas a armação das saietas. Em movimentos sincronizados batem levemente os pandeirinhos nas mãos, a enorme plateia em silêncio e de repente, as luzes se acendem!
O mestre é o Pastor, dado o sinal  elas começam a apresentação, dançando e cantando:
Boa noite meus senhores todos,
Boa noite senhoras também,
Nós somos todas, pastorinhas belas,
Que alegremente vimos de Belém.
Com um passo á frente a Mestra se apresenta cantando:
Eu sou mestra do cordão azul...
Em seguida com outro passo a frente a outra  Mestra,
Eu sou a mestra do cordão encarnado...
Aí todas juntas cantam em um outro rítimo, outra música:
Borboleta pequenina saia fora do quintal,
Venha ver quanta alegria,
Hoje é noite de natal.
E lá de traz, saltitante e sorridente a borboleta, com pequeno bastão na mão, cantando:
Eu sou uma borboleta, pequenina e feiticeira,
Vivo no meio das flores,
Procurando quem me queira.
Começa então a apresentação individual, quando cada pastora  termina voltava e a fila vai se invertendo e ao tempo em que as apresentações são  feitas, a plateia avalia e  aprega com alfinetes as notas de dinheiro nas roupas de acordo com cor de seu partido. Terminando as apresentações  todas  dão uma volta no palco, com uma mão erguida  balançando os pandeirinhos e outra na cintura.
Não é preciso dizer que a essa altura a cidade inteira estava envolvida nesta competição, a comoção era total! - Mas quem era azul, era azul. Quem era encarnado, encarnado. Uma competição acirrada.
As apresentações começavam na véspera de Natal e se encerravam dia seis de Janeiro,dia de Reis, nesse período o partido que arrecadasse mais, era o vencedor. Sendo coroado por um ano inteiro.
Eu sempre fui do azul mas nunca dancei, ( Não sei se porque era muito alta e muito magra ou porque não tinha um par, só sei que nunca superei isso). Já minhas irmãs Noemi e Socorro dançavam todo ano e nós não mudávamos de partido por nada, o ruim era perder e ser provocada o ano inteiro.
Nessa brincadeira perdiámos a noção do tempo, voltávamos para casa com algumas  prendas que ganhávamos nossos jogos. As meninas com as fantasias nas mãos e os menores dormindo no colo.
Vencidos pelo cansaço, não conseguíamos ver a chegada do Papai Noel. Os presentes amanheciam em nossos sapatos, novos, mas todo amarrotados de tanto correr e brincar.
Nós não precisávamos de muita coisa para sermos felizes, o bem maior era a magia do Natal, o encontro, a confraternização. Se já existia o stress de hoje eu não lembro, o que não esqueço é que fomos muito alegres, se meu conceito de felicidade mudou foi por que cresci, fiquei adulta, minha vida tomou seu curso natural, como um rio que nasce. Se estou longe ou perto não tem importância, se por um lado me falta presença, me sobra riqueza de conhecimento e beleza, afinal de contas estou em São Paulo. Se meu sentimento hoje não é apenas de nostalgia é porque não pulei etapas na vida. Hoje me sinto rica por ter essas Memórias!
E o melhor é ter vocês para compartilhar, como disse Socorrinho esse Blog serviu para encurtar distancias.

6 comentários:

Anônimo disse...

Rosário,

aqui em Recife, até hoje existe Pastoril, mas sempre achei que fosse coisa de Grupo Folclorico, bom saber que vocês vivenciaram isso.

Beijos,
Guliane.

Anônimo disse...

Só para lembrar: Havia aqui no Nordeste uma espácie de Pastoril que os intelectuais chamavam de Pastoril Profano.
Quando eu era adolescente tive a oportunidade de assistir um desse que era chamado de Pastoril do Faceta. Existe um LP (Digo Vinil) com todo o seu repertório.

Um abraço

maria do rosario disse...

Justo,

Tenho conhecimento deste Pastoril Profano, dizem que tinha esse nome porque as pessoas apregavam dinheiro nos trajes das dançarinas, lembrando assim uma prática usada nos Cabarés.
Como não sabia que existia até site, não mencionei, só hoje após seu cometário descobri no Google que não era história de Carochinha.

Obrigado, esses resgates são maravilhosos!

Um grande abraço,

Rosário

Maria do Rosário disse...

Amigo,

Descobri o nome da casa da Amarelinha!!!!
Chama Goga de Gogó ou Pescoço, como seu amigo deu a diga e eu achava que era garrafão, fui juntando as peças.
Com essas palavras chave: O Google me salvou!

Maravilha, estou de divertindo.

Beeeeeeeeeeeeijo.

Rosário

Anônimo disse...

Rô.
que bom que descobriu, fiquei curiosa mas não tive tempo de dar uma maozinha.
Ah! por falar no pastoril, dar uma saudade...
Fiz uma retrospectiva e fui lembrar das meninas que dançavam (Mary, Sonia, Albinha, Margarete, Eu, Noemi, Ana Luzia, Socorrinho e Tania (sobrinhas de Ieda))... e Dona Dolores a grande mestra.
Quero concordar com você sobre esta rica oportunidade de crescer como ser humano que lhe deu esse voo por outras regiões brasileiras.
Beijo grande,
Socorrinho

Paula Falcão disse...

Amiga; Desculpe minha ausência nos comentários, kkkkkkkkkk, li todos, apenas não postei um comentário. Amo você de paixão! Como conversamos inúmeras vezes, você deveria escrever um lívro. Suas histórias são estimuladoras. A partir de agora, não falharei mais e farei todos comentários (risos). Você é uma mulher como poucas, minha irmã de alma...