quarta-feira, 17 de novembro de 2010

TUDO NA VIDA TEM UM PROPÓSITO

Muitos, muitas vezes me perguntaram o que move um vendedor, mas foi a primeira vez que me fizeram essas perguntas: - Quando você descobriu sua vocação...  Como desenvolveu esse talento para área Comercial...
Porque você vende seus produtos com tanta facilidade e elabora seus argumentos com tamanha convicção.
Eu nunca tinha parado para fazer essa análise, acho que nasci assim. - Mas posso ter precisado ser assim! - Na verdade eu gosto mesmo é de ser assim! - Sou mais feliz assim!  -  Não me vejo fazendo trabalho burocrático.
Será que estou certa, vamos juntos então para mais uma aventura dessa pequena Fénix atrevida!
Eu já estava com minha postagem pronta, como podem perceber não publiquei nada na semana passada. Não consegui fugir da inquietação gerada pelas perguntas, as memórias eram da época em que tinha 11 anos. E a postagem relatava essa aventura, a pergunta veio à calhar e agora tudo começa fazer sentido, era um outro ressurgir. Lógico, quase morri quando meus pais decidiram que eu ia estudar em Maceió. Na véspera da viagem fui dormir desejando que o dia não amanhece, ou que eu não acordasse, ou que o trem não chegasse, ou que quebrasse na estação e não seguisse viagem, ou, ou, ou...
Era madrugada  ainda estava escuro e silencioso, mamãe me acordou para  viajar, a bagagem já estava arrumada e depois disso lembroque estava na Estação Ferroviária de posse de minha pequena maleta, amedrontada com o fato de ter que embarcar sozinha, eu era tão menina, tão insegura e medrosa. Sinceramente, eu não queria ir, mas ao mesmo tempo sentia uma curiosidade por ir, só não entendia o porque daquela angustia, afinal eu tinha que ir, fomos educados para obedecer nossos pais, criança não fazia o que queria. Eu já sabia disso. E porque eu era assim, e  aquele choro intenso e constante que me perseguia nos momentos de aflição, seria medo simplesmente, fuga,dor, sensação de fracasso, como saber. Eu era apenas uma menina chorona.
Piiiiiiiiiuuuuuuuuí o apito do trem me assustou, meu coração disparou, agora não tinha jeito, embarcar nele era a realidade, a essa altura mamãe já tinha encontrado duas amigas  que me fizeram companhia durante a viagem, na qual passei muito mal. Mas após 6 longas horas balançando no trem e ouvindo aquele ta tac ta tac, ta tac ta tac, cheguei na Estação de Maceió e para meu alívio, logo localizei Gilbertinho em meio a multidão, meu primo que viera me buscar. Então chorei de alívio. Segurei sua mão e seguimos no contra fluxo das pessoas que iriam embarcar. Com dificuldade por causa da bagagem, mas conseguimos sair dali e finalmente eu pensei com meus botões: Estou em Maceió.
Foi a primeira vez que andei em um onibus urbano, tendo assim uma visão privilegiada da cidade, logo na primeira curva avistei a orla, era a praia da avenida, um mar de águas calmas com o Caís do Porto ao fundo, na segunda grande curva, a praia de pajuçara, cheia de coqueiros, com muitas jangadas de pescadores  com suas velas brancas tremulando ao vento, que a meu ver eram de diversos tamanhos e só estavam em distancias diferentes, mas  mesmo assim compunham um belo cenário . Difusas, naquele movimento constante das pequenas ondas do mar formadas pelo vento, eu as via através de uma linha  distante que  unia o céu ao mar. - O mar! -  O mar de  Maceió sempre foi muito bonito! E eu naquele momento sentada na janela o vento acariciando meu rosto, sentindo o cheiro do mar,  o frescor da manhã, fazia uma outra viagem.
Quando chegamos em casa eu já parecia outra pessoa, tão feliz de rever minhas primas e elas tão felizes por me receber. Logo corremos para o quarto, para contar as novidades. Só quando todos dormiram é que chorei de desespero, medo e saudade.
No dia seguinte, comecei  prestar atenção em como a vida  funcionava de forma diferente ali. O rítimo era outro, as pessoas mais bonitas, tudo parecia maior do que realmente era, as distâncias começavam a ser descobertas por mim, porque até então, meu universo era muito restrito.Fui fazer minha matricula na escola , fui a centro da Cidade com meus tios tirar minha carteira de identidade, conheci a Praça da Assembleia, a Catedral, O Palácio do Governo e tio Gilberto nos levou no mirante do farol. Depoís voltamos pela ladeira da rodoviária, beirando o riacho Salgadinho.
Eu agora estudava na mesma Escola que Neide e tio Gilberto nos dava uma carona na ida ao trabalho, voltávamos ao final da tarde caminhando e conversando. A noite minha Tia que dava aulas de corte e costura, cabeleireiro e flores em tecido, na Escola das Senhoras de Caridade da Paróquia de São Pedro e que para ter companhia na volta nos levava junto, eu e Isabel Cristina. Aproveitavamos para aprender também, fiquei fascinada com modo de fazer moldes sobe medida, comecei prestar mais atenção e depois a fazer os meus, ali entre as alunas, sem que minha tia se desse conta.
Uns dois meses depois que eu estava naquele ambiente onde tudoarte fui me empolgando. Era um atelié de alta costura, Fátima e Verinha já costuravam muito bem. Tia Teté além de trabalhar como Professora em tempo integral,  ainda fazia a roupas das mulheres mais chiques de Maceió, principalmente quando iam viajar para a Europa e EUA, quantos sobretudo de dupla face eu à vi  fazer. E os vestidos de gala longos bordados, e os de noiva!! - Era inacreditável o talento dela, eu contagiada por apela atmosfera onde tudo era arte começei me sentir capaz de fazer também. E num sábado enquanto todos faziam a cesta,  peguei uns retalhos e fiz uma blusa sozinha. Quando acordou minha tia disse: Ouvi o motor da máquina, quem estava costurando, eu com uma voz sumida disse: Fui eu, e mostrei a blusa, ela disse que a costura dupla de pesponto não era feita daquela maneira e eu desmanchei e refiz, e nunca mais esqueci a lição, temos que tentar, apredemos com os erros. Assim aprendi costurar e minha próxima obra foi um biquine azul marinho, de tecido estampado com flores bem miúdas lindo. E depoís fiz uma calça que devia ser comprida, mas como o tecido não deu, ela ficou capri. Todo mundo quis fazer uma igual, mamãe disse: Essa menina já está lançando moda! Todos riram.
Num final de semana, após o banho de mar e o almoço  fomos ajudar Tia Teté na confecção de pequenas flores e frutas de tecido para montar um mostruário em forma de álbum, para  as aulas de arte. Depois que acabamos notei que fizemos uma enorme quantidade. Pensei então, e depois do curso o que fazer com todos eles.
Tive a ideia de vender, sem ninguém saber, coloquei alguns numa caixa de sapato e sai tocando as companhias das casas vizinhas, nos morávamos na ponta verde, o bairro mais chique de Maceió, de inícios as madames  achavam bonitinho o fato de eu oferecer e quando falava de quem era sobrinha elas logo me deixavam entrar, como se não bastasse eu ainda ensinava como usar, chegando ao ponto de pedir liçenca para ir até o quarto e compor os caixinhos junto as  roupas, fazendo as combinações.
Fiz várias viagens de ida e volta em casa, no final da tarde tinha vendido tudo. Todas nós ficamos   felizes. Mas como percebi que as clientes tinham roupas mais chiques, sugeri fazermos camélias maiores em cores clássicas de cetim de seda, que colocadas nas golas dos casacos e acompanhadas de um colar de pérolas ficariam perfeitas. As artista logo aceitaram a sugestão, adoravam fazer arte e agora que tinha uma vendedora de talento, gostavam ainda mais. Sabem o que era melhor! Eu já tinha uma lista enorme de encomendas, dos cachos de flores e das tais camélias. Trabalhamos muito para dar conta das encomendas, ficamos com calos nas mãos. Como lembrou tia Teté em nosso último encontro em maio desse ano. Morremos de rir. Acho que aí acendeu um alerta. Voltei pra casa pensando naquele começo.
Eu não sabia, mas aquele atrevimento todo misturado  ao entusiasmo que contagiou todas nos em casa, já era um sinal.  Eu  estou  me dado conta disso agora.
Segui meus estudos, aliás nunca tive problemas na escola,  fui selecionada para jogar voleibol no time da Seleção Alagoana do Iate Clube  e para vencer o medo da água, optei por fazer natação ao invés de educação física na escola. Minha vida mudou para melhor, agora eu tinha muitas tarefas, participava de todas as competições com garra para vencer sempre, havia me libertado opressão da infância, da insegurança, o esporte me ajudou muito, meus professores investiram em mim, começei crescer dentro e fora da quadra. Agora não chorava tanto.
No final daquele ano me formei na Escola de Arte e recebi o diploma  de corte e costura. Em minha foto de formatura estou vestida numa roupa que eu mesma fiz. O modelo: Um atrevemento que causou muita admiração e o que melhor, feito por mim. Um bermudão de xadrez estilizado com barra Italiana e uma blusa de seda azul com bolas brancas com uma gola enviesada que dava grande laço ou apenas passava as pontas e deixava cair como uma gravata. - Quem já se viu combinar bolas com xadez, disseram, mas eu nem liguei, estava me achando linda, era o que importava.
O ano seguinte passou muito rápido, como sempre. Tive que voltar pra casa para dar lugar a minhas irmãs que precisavam ir para Maceió terminar o segundo grau e prestar vestibular.
Voltei para casa e continuei atrevida, como dizia mamãe: Essa meninas é muito astuciosa, eu fazia moldes sobe medida e vendia para as costureiras, cortava o cabelos e costurava para minhas amigas e cobrava por meu trabalho, sem mamãe saber é lógico.
Me candidatava a Rainha de tudo no Ginásio. Rs., Mas foi como Rainha do Carnaval que aos dezessete anos eu me superei, fui a rainha que mais vendeu votos na história da cidade, sou Rainha até hoje, ninguém nunca conseguiu bater meu recorde! -  Como isso aconteceu, eu tinha um objetivo, viajar para conhecer São Paulo era o meu sonho e precisava do dinheiro do Prémio. Porque papai não me deixava ir e para justificar disse não ter dinheiro e eu, consegui o dinheiro. E assim foi. Passei um mês de férias em São Paulo.
Mas minha vida profissional tomou um rumo totalmente inverso ao que eu havia projetado, meu sonho era ser professora, estudei para isso. E agora isso responde a pergunta. Não nascemos nada, nos tornamos alguma coisa   se seguirmos os sinais que vida nos oferece e  se nos especializados naquilo que fazemos de melhor, nos profissionalizamos. Mas ser um bom profissional  requer muita luta, dedicação, coragem, ousadia, intuição e talento e como diz minha mãe: E uma pitadinha de sorte. O que significa: - "Estar no lugar certo, na hora certa, com a pessoa certa".
O sucesso vem por tabela, mas é preciso ter dois pesos e duas medidas. - Como se diz: A vaidade é uma faca de dois gumes e ambição tem limite.

5 comentários:

Mariana Lyra disse...

Muito bom mae! adoro ler suas memorias :) Vc escreve muito bem, alem de todos os talentos que vc mencionou acima. Gostaria de ter herdado todos eles!!! hahahaha

Saudades
Te amo!

maria do rosario disse...

Mari!

Você também é muito talendosa e valente, eu que gostaria de ter sua coragem. Se aventurar em outro País é um ato de bravura.
Te admiro muito. Quando você voltar vou te envinar a costurar..rs.,rs.
Beijos,

Mamãe.

Anônimo disse...

Bela "Crônica". Principalmente para quem fez a mesma viagem.

Meu amplexo.

Justo (O Belo)

Anônimo disse...

Rosário,

Gostaria de saber mais sobre Maceió naquela época, dizem que era pura natureza. Seria possível ser mais bela...

Mônica.

maria do rosario disse...

Mônica,

Nesta época era pura natureza mesmo, para quem não conhece é difícil descrever.
Quando voltei a morar em Maceió ainda era muito bacana e dessa época tenho memórias maravilhosas.
Aguarde mas um pouco.

Bjo.
Rosário